Quatro artistas revisitam suas próprias histórias em meio às violências cotidianas que atravessam corpos negros no Brasil a fim de resgatar suas identidades e imaginar novos futuros coletivos possíveis. Esse é o ponto de partida do experimento cênico-performativo “OUTROS NAVIOS: danças para não morrer”, que integra a programação da 21ª edição do Festival de Teatro de Araçatuba (Festara). A apresentação será na data de abertura, dia 20 de setembro (sábado), às 22h, no Centro Cultural Associata, Ponto de Encontro do evento, com entrada gratuita, acessibilidade em Libras e audiodescrição.
Unindo dança, performance, música e artes visuais, a obra tem concepção e direção de Mayk Ricardo, de São José do Rio Preto, interior paulista. O artista da dança assina a coreografia e integra o elenco ao lado de Carol Cof, David Balt e Diego Neves. A partir da experiência individual e coletiva de cada intérprete, a criação propõe um gesto de resistência e reinvenção.
Criada em 2023, a convite do Sesc Rio Preto, para integrar a exposição “OUTROS NAVIOS: fotografias de Eustáquio Neves”, a performance estabelece diálogos diretos com o imaginário visual e histórico construído pelo fotógrafo mineiro, refletindo sobre memória, deslocamento e sobrevivência. “A pesquisa propôs o encontro das obras fotográficas tanto nos corpos dos performers quanto no vídeomapping e projeções que compõem a dramaturgia, utilizando a arte como estratégia de contra-ataque e prática de autodefesa para reconstruir nossas identidades, territórios e pertencimento; valorizando a ancestralidade, as afetividades e as singularidades”, afirma Mayk Ricardo.
O trabalho investiga as coreografias possíveis para esses corpos e suas histórias, tendo o afeto e a alegria como escolhas éticas e políticas de resistência frente às opressões. “A construção do trabalho se deu a partir da ideia de corpo abjeto e da crise da presença, na tentativa de chegar a um reconhecimento da subjetividade de cada um e na retomada da identidade negra por meio do campo do ritual, a partir de memórias e histórias pessoais de cada artista, além de matérias e objetos que foram sendo compartilhados nos ensaios”, conta Mayk Ricardo.
Em sua parte final, a cena se expande para além do palco: uma discotecagem ao vivo toma o espaço, assinada pelo DJ Taroba, convidando o público a se deslocar, dançar e celebrar junto. Este momento não surge como apaziguamento, mas como ato político: festejar a vida contra a pulsão de morte e afirmar a potência dos corpos negros enquanto sujeitos de alegria, desejo e invenção.
“Pensando nessa ideia de um ritual festivo, surgiu o interesse de ter o DJ Taroba encerrando o trabalho com uma breve celebração da vida e da cultura preta, enquanto os performers conduzem um baile da negritude”, diz o artista.
A dramaturgia do experimento performático é inspirada especificamente em três séries fotográficas de Eustáquio Neves: “Objetivação do corpo”, “Máscaras de punição” e “Boa aparência”. Essas séries discutem as relações étnico-raciais promovidas no passado e no presente, como a violência e o silenciamento dos corpos, a intolerância contra os ritos, e a privação de direitos da população negra.
Ação formativa
Mayk Ricardo também marca presença nas ações formativas do Festara com o Laboratório investigativo “Estudos afetivos para mover a corpa”, no qual faz a provocação. A atividade está com inscrições abertas e acontece no dia 21 de setembro, domingo, das 10h às 12h, no Centro Cultural Associata. São 30 vagas e todas as pessoas com idade mínima de 16 anos que tenham interesse ou afinidade com as artes do corpo são convidadas a participar.
Partindo da pergunta “Pode o movimento ativar a memória dos corpos e exaltar sua identidade?”, a proposta é explorar as múltiplas formas pelas quais um corpo pode ser afetado. Serão compartilhados alguns dos procedimentos teórico-práticos que impulsionaram a criação da performance “OUTROS NAVIOS: danças para não morrer”, estabelecendo pontes entre as corporeidades e os interesses artísticos singulares de cada participante.
O projeto
A apresentação e o laboratório integram o projeto “OUTROS NAVIOS: circulação para novos mundos”, contemplado pelo Edital Fomento CULTSP – PNAB nº. 27/2024 – Difusão e Circulação de Projetos Artísticos Culturais. A proposta é circular por 10 municípios paulistas, oferecendo um conjunto de ações. Além da apresentação, as cidades receberão vivências afetivo-formativas, sendo uma delas o laboratório e, a outra, a gira de conversa “Apontamentos para novos mundos”. Também está prevista a produção de um vídeo documental.
A primeira cidade a receber a circulação foi São José do Rio Preto, dentro da programação do Festival Internacional de Teatro, o FIT Rio Preto, em 25 de julho. Após Araçatuba, a próxima apresentação será em Jales.
SERVIÇO:
OUTROS NAVIOS: danças para não morrer – Mayk Ricardo (em coletivo) – São José do Rio Preto/SP
Quando: 20/09 (sábado), 22h
Onde: Centro Cultural Associata (Rua Quinze de Novembro, 275)
Ingresso: gratuito, com formação de fila 1h antes.
Classificação: 18 anos (devido estar na programação do Ponto de Encontro)
Duração: aproximadamente 70 minutos
Acessibilidade: Libras e audiodescrição
Laboratório investigativo “Estudos afetivos para mover a corpa”, com Mayk Ricardo
Quando: 21/09 (domingo), 10h às 12h
Onde: Centro Cultural Associata (Rua Quinze de Novembro, 275)
Inscrições: https://bit.ly/4mXMQ4P
Público-alvo: pessoas interessadas a partir dos 16 anos
com informações assessoria de imprensa do evento _foto_ Edgard-Machado

